Após alta, criança de 5 anos morre por trauma que hospital considerou leve

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Criança em retrato divulgado nas redes sociais (Foto: Facebook)

Uma menina de apenas 5 anos, faleceu na última quinta-feira (29), cinco dias após um acidente doméstico que, segundo a família, não recebeu a devida atenção da Santa Casa de Campo Grande. A criança, que tinha histórico de cardiopatia, chegou a ter alta médica antes de sofrer uma parada cardíaca e morrer no hospital.

“Ela foi morrendo aos poucos, sofrendo, com muita dor”, relata a tia Vailza Viana, que agora pede que o hospital seja responsabilizado pela suposta negligência no atendimento.

Segundo a contadora de 39 anos, a criança estava brincando com a família quando um portão acidentalmente atingiu sua cabeça. Imediatamente, os familiares levaram a menina à UPA Vila Almeida, onde ela levou cinco pontos na cabeça. Devido ao forte impacto e ao histórico de problemas cardíacos, ela foi transferida com urgência para a Santa Casa. No entanto, aproximadamente quatro horas depois, acabou recebendo alta hospitalar.

A justificativa para a alta, conforme consta no documento, foi que “não foram encontradas evidências que indicam que o trauma cranioencefálico foi grave”. No entanto, o mesmo trauma foi registrado na certidão de óbito como a causa do falecimento da menina.

Documento de alta (superior) e certidão de obito (inferior) da pequena criança (Foto: Arquivo Pessoal)

Atendimento – De acordo com o relato de Vailza, após o retorno para casa na manhã de segunda-feira (26), a menina continuou apresentando sintomas graves. “Ela só vomitava, estava com 39° de febre, e por isso voltamos ao hospital. No domingo, só fizeram um raio-X e a liberaram, mas ela estava piorando”, contou a tia.

Segundo a família, ao retornarem à Santa Casa em busca de um novo atendimento, a menina foi internada e passou por uma tomografia que revelou uma fissura no crânio e um pequeno sangramento. Conforme a tia, a recomendação médica foi monitorar o sangramento, continuar com exames e medicamentos.

“Eles ficaram medicando ela para dor, esperando passar naturalmente. Mas não passava. Ela foi sofrendo na terça, na quarta, e na quinta ela já não conseguia nem falar, de tanta dor. Ela pediu muito por ajuda, mas só recebeu dipirona e morfina”, relata Vailza, ainda muito abalada.

Na quinta-feira (29), a criança sofreu uma parada cardíaca e foi reanimada durante 17 minutos. Em seguida, a equipe tentou levá-la ao centro cirúrgico, mas já era tarde demais. “Um médico me disse que ela deveria ter feito essa cirurgia assim que chegou ao hospital. Tentaram operá-la, mas ela teve outra parada cardíaca e não resistiu”, desabafa a tia.

Agora, a família busca justiça. Vailza, que fala com a imprensa em nome da mãe da menina— ainda profundamente abalada pela perda da filha — afirma que vai recorrer à Justiça para responsabilizar a Santa Casa de Campo Grande.

“Ela era linda, brincalhona, queria saber o porquê de tudo, muito curiosa. Todos os vizinhos foram ao velório, ela era amiga de todos. Adorava maquiagem e amava dançar. Era filha única, nossa caçulinha, e tinha muitos sonhos pela frente. Vamos buscar justiça porque eles precisam ser responsabilizados. Mandaram ela para casa como se estivesse bem”, lamenta a tia enlutada.

Santa Casa vai reavaliar conduta após morte de criança que recebeu alta

A Santa Casa de Campo Grande garantiu que todas as condutas e decisões adotadas no caso da criança de 5 anos que faleceu após receber alta  estão sendo avaliadas e reavaliadas internamente.

Em nota, o hospital afirma que acompanha o caso desde o momento do óbito, prestando solidariedade à família pela  perda. Segundo a instituição, a paciente passou por diversos exames e foi submetida a avaliações feitas por diferentes profissionais e especialistas, tanto na primeira quanto na segunda passagem pelo hospital.

“No primeiro atendimento, após um período de observação rigorosa e sem sinais preocupantes, a paciente recebeu alta. Cerca de 10 horas depois, houve um retorno ao hospital, já com quadro de piora, sendo prontamente atendida novamente”, explica o comunicado.

O corpo foi encaminhado para necropsia, e o hospital segue acompanhando de perto o desenrolar da situação. Por fim, reafirmam o compromisso com a transparência e com a prestação de um atendimento de qualidade à população. Mais uma vez, lamentam profundamente o ocorrido e se solidarizam com os familiares e amigos.