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Juros de 8,5% do Plano Safra podem inviabilizar investimento de produtores, dizem consultorias

Plano Safra 25/26 veio dentro do esperado, com juros mais altos e condições possíveis, diante do cenário econômico e fiscal do governo. No entanto, as taxas das linhas de crédito para investimento podem fazer com que a conta não feche para diversos produtores rurais. A avaliação é da sócia-gerente da Agroicone, Leila Harfuch.

“Para alguns perfis de produtores, investir a 8,5% (ao ano) pode não ter viabilidade econômica”, afirmou a especialista ao Valor, nesta terça-feira(1/7), logo após o anúncio do novo Plano Safra da Agricultura Empresarial.

O plano terá R$ 516,2 bilhões em recursos para empréstimos a médios e grandes produtores, 1,5% a mais que os R$ 508,6 bilhões da temporada anterior. Os juros subiram até 2 pontos percentuais. As taxas para o custeio dos médios produtores são de 10% e as dos demais, de 14%. Nos investimentos, as alíquotas vão variar entre 8,5% e 13,5%.

Apesar do custo elevado para tomada de recursos, a sócia da Agroicone ressaltou que as taxas de juros ainda estão abaixo do valor de mercado, que é de no mínimo 15% ao ano, patamar da Selic.

“O produtor vai ter que colocar na ponta do lápis, por mais que as taxas de juros estejam altas (no Plano Safra), se ele (produtor) tomar recursos fora do crédito rural, vai tomar ainda mais caro”, disse ela, citando que é cedo para cravar se haverá aumento na inadimplência em função disso.

Neste cenário, a expectativa é que os produtores foquem mais no custeio, em detrimento dos investimentos, exceto melhorias realmente necessárias para as lavouras, na tentativa de limitar a tomada de crédito com custo alto.

“Se pensarmos que esse é um ano de custos mais elevados, provavelmente ele (produtor) vai focar mais no custeio ou na infraestrutura mais necessária para eles”, afirmou Harfuch.

Ciente disso, o governo aumento os recursos do Plano Safra para custeio de R$ 401,3 bilhões para R$ 414,7 bilhões. Já o montante para as linhas de investimento caiu de R$ 107,3 bilhões para R$ 101,5 bilhões.

Juros de 8,5% do Plano Safra podem inviabilizar investimento de produtores, dizem consultorias
Juros de 8,5% do Plano Safra podem inviabilizar investimento de produtores, dizem consultorias — Foto: Globo Rural

Mais verde

Outro direcionamento claro do Plano Safra foi o fomento a práticas sustentáveis. O programa está cada vez mais “verde”, em uma tendência que veio para ficar e se reflete, também, no Plano Safra da Agricultura Familiar.

“Teve uma demanda do setor que achei muito interessante que foi financiar combate ao fogo nas propriedades rurais. Isso reduz o risco do produtor e o coloca como um agente no processo de sustentabilidade do campo”, ressaltou Harfuch.

Houve também aumento nas exigências relacionadas ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e na necessidade de contratação de ProAgro, para mitigação de impactos por problema com clima.

“São medidas importantes e estruturantes para a produção. Se a gente aumenta a sustentabilidade do campo, aumenta a renda do campo e melhora a vida do produtor”, completou.

Avanços deixaram a desejar

Imagem Ilustrativa – Foto /Reprodução: Fertili

Apesar de os valores serem maiores que os do ano passado, os anúncios do Plano Safra da Agricultura Familiar e da Empresarial 2025/26 tiveram avanços pontuais e deixaram a desejar, pressionados por cenário macroeconômico apertado. É o que avaliou a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio.

De acordo com o sócio-diretor Carlos Cogo, o anúncio do crédito para os agricultores de pequeno porte teve avanços pontuais, que perderam força quando considerados os efeitos da inflação. Ele destaca que houve um ligeiro aumento nos recursos totais, com manutenção das taxas mais baixas para a produção de alimentos, mas produtores de commodities como soja e boi gordo continuarão pagando juros mais altos, de 8% ao ano nas linhas de custeio.

Ao se considerar a inflação acumulada de 5,3% nos últimos 12 meses, o valor real do plano é inferior aos R$ 76 bilhões anunciados para a safra 2024/2025, aponta o consultor.

Entre os destaques está a ampliação da linha de crédito para compra de máquinas de pequeno porte, adaptadas à realidade da agricultura familiar.

No caso do plano para Agricultura Empresarial, Cogo também reforçou que a Selic e a inflação pesaram sobre o valor a ser destinado. Os avanços brutos, com isso, não se traduzem em poder de financiamento real.

“Apesar da elevação nominal do orçamento em R$ 8 bilhões, o valor não cobre a inflação acumulada de 5,3%, o que resulta em recuo no poder de compra dos produtores”, disse.

Entre os pontos positivos, Cogo destaca a ampliação do acesso ao crédito para os médios produtores, com o aumento do limite de renda do Pronamp de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões, o que torna o programa mais inclusivo, além do incentivo a práticas sustentáveis no campo.

Para ele, outro destaque foi a unificação das linhas Moderagro e Inovagro, que simplifica o acesso ao crédito para modernização de instalações, com limite de financiamento ampliado para até R$ 4 milhões por beneficiário.

O reforço nas linhas dolarizadas do BNDES, com R$ 14,4 bilhões disponíveis e juros entre 8,5% e 9% ao ano, amplia as opções de financiamento em moeda estrangeira, acrescentou. No entanto, o aumento nas taxas de juros representa um entrave significativo.

Cogo ponderou que a obrigatoriedade imediata do ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) para operações acima de R$ 200 mil também gera preocupação. “Embora considerada uma exigência técnica importante, pode criar gargalos operacionais em regiões onde o zoneamento ainda é deficiente ou desatualizado”, disse.

O consultor avaliou também que o plano avançou pouco em iniciativas para a transição digital. “Faltam medidas específicas para fomentar agtechs, conectividade no campo, internet das coisas (IoT) e adaptação climática, além das já previstas no ZARC e no RenovAgro”, reiterou.

Fonte: Nayara Figueiredo e Isadora Camargo – Globo Rural
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