O Ministério da Saúde monitora os casos de intoxicação por metanol que levaram a três mortes no estado de São Paulo, após o consumo de bebidas alcoólicas “batizadas”. Em Mato Grosso do Sul, não há casos confirmados; no entanto, a unidade regional da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) mobiliza a orientação de estabelecimentos para o descarte de produtos suspeitos de adulteração.
Segundo o presidente da Abrasel-MS, João Francisco Denardi, a entidade está atenta ao cenário de alerta após os casos registrados na capital paulista. Ele destaca que a falsificação e adulteração de bebidas são crimes graves contra o consumidor, que colocam em risco a saúde da população e geram prejuízos diretos aos estabelecimentos sérios e comprometidos com a legalidade.
“A entidade também reforça a recomendação do Ministério da Justiça de que bares e restaurantes, diante de qualquer suspeita, suspendam a venda da bebida e comuniquem as autoridades, estando atentos a preços baixos, lacres tortos, erros de impressão e odor semelhante ao de solventes, que devem ser tratados como suspeita de adulteração”.
Fiscalização regional
Ainda, a orientação é que os estabelecimentos sempre procurem comprar os produtos de distribuidores reconhecidos e confiáveis. “A Abrasel-MS está buscando, ainda, junto às autoridades locais, medidas para evitar que situações como esta aconteçam em Mato Grosso do Sul”, diz.
Conforme a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), a Vigilância Sanitária de Campo Grande segue as fiscalizações de rotina previamente estabelecidas, nas quais também são verificadas a qualidade e a procedência das bebidas que estão sendo ofertadas nos estabelecimentos.
Contudo, até o momento, não foi identificado nenhum caso de substância adicionada ou bebida adulterada na cidade.
Protocolo estabelecido
O Comitê Técnico do SAR (Sistema de Alerta Rápido) do Governo Federal confirmou 10 casos até a segunda-feira (29), relacionados ao consumo de bebida alcoólica em São Paulo. Até o final desta tarde, três óbitos foram oficialmente atestados pelo Laboratório de Toxicologia Analítica do CIATox-Campinas, com base na identificação de um novo padrão registrado desde o dia 1º de setembro.
Portanto, uma força-tarefa foi mobilizada para as investigações sobre os envolvidos e a comercialização dos produtos adulterados. O trabalho é coordenado pela Senad-MJSP (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública).
Um alerta foi emitido a todos os Procons do país, com orientações voltadas a fornecedores e consumidores sobre a segurança na comercialização e no consumo de bebidas alcoólicas.
O Ministério da Saúde monitora a situação junto ao estado de São Paulo, responsável pelo atendimento dos casos, e reforça que todas as unidades de saúde, em especial a rede de urgência e emergência, devem seguir o protocolo de notificação para casos suspeitos de intoxicação exógena.
O Ministério da Agricultura e Pecuária está levantando informações para a adoção das medidas necessárias e avaliação de eventuais ações de fiscalização.
O que se sabe sobre as intoxicações
Segundo o Governo Federal, os casos apresentam padrão inédito e diverso dos que eram, até então, registrados. As ocorrências de intoxicação por metanol estavam, majoritariamente, associadas a pessoas em extrema vulnerabilidade ou à população em situação de rua, ambos a partir da ingestão de álcool adulterado com a substância em postos de gasolina.
No entanto, a partir do início do mês de setembro, em um curto intervalo de tempo, os pacientes intoxicados apresentaram histórico de ingestão recente de bebidas alcoólicas destiladas em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros.
Logo, diante do caráter inédito da situação, o MJSP ressalta a possibilidade de existirem casos ainda não notificados, que seguem sob investigação e aguardam confirmação laboratorial.
- Foram adulteradas com metanol bebidas alcoólicas como gin e vodca. Segundo uma das vítimas, a marca — não divulgada — era famosa e estava lacrada;
- Por enquanto, não se sabe em qual etapa da distribuição o produto foi alterado ou quem seriam os responsáveis pelo crime;
- A polícia e a fiscalização já apreenderam cerca de 117 garrafas suspeitas em bares e uma adega da região sul da capital paulista, sendo localizados nos Jardins (Zona Oeste) e na Mooca (Zona Leste), conforme o G1;
- O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, descartou, em entrevista à TV Globo, a participação da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), após a declaração do diretor de comunicação da ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação), Rodolpho Heck Ramazzini, à TV Brasil, sobre a suspeita de envolvimento do crime organizado na produção.
Vítimas
Ao Fantástico, as vítimas internadas relataram que os sintomas começaram logo após o consumo de bebidas alcoólicas. Uma das vítimas ficou cega ao consumir caipirinha batiza.
Outra vítima, um jovem estudante, está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) há um mês. Ele descreveu que passou mal, apresentando vômito e dores abdominais.
Entre as vítimas fatais estão:
- Homem de 58 anos, morador de São Bernardo do Campo;
- Homem de 54 anos, morador da capital paulista;
- Homem de 45 anos. O local de residência está sendo investigado.
O que é metanol?
A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) explica que o metanol é um composto orgânico da família dos álcoois, com um átomo de carbono, três átomos de hidrogênio e uma hidroxila, cuja fórmula é CH₃OH, sendo líquido à temperatura ambiente.
É um dos mais importantes insumos na indústria química, sendo usado como matéria-prima para sintetizar produtos químicos utilizados na produção de adesivos, solventes, pisos e revestimentos. Em escala industrial, é produzido predominantemente a partir do gás natural.
Em razão da toxicidade do produto, de seu potencial como adulterador do etanol combustível e da gasolina, dos riscos à saúde humana e à segurança pública, a ANP tem uma regulamentação rígida, que estabelece o registro obrigatório para a movimentação e o armazenamento do produto.
A intoxicação
A nota do Ministério da Saúde descreve que a intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar ao óbito.
Portanto, o consumidor deve ficar atento aos sinais, por exemplo: episódios de visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese).
Em caso de identificação dos sintomas, deve-se buscar imediatamente os serviços de emergência médica e contatar pelo menos uma das instituições a seguir:
- Ligue para o Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
- Ligue para o CIATox da sua cidade para orientação especializada (Contatos disponíveis em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animais-peconhentos/ciatox);
É importante identificar e orientar possíveis contatos que tenham consumido a mesma bebida, recomendando que procurem imediatamente um serviço de saúde para avaliação e tratamento adequados. A demora no atendimento e na identificação da intoxicação aumenta a probabilidade de um desfecho mais grave, com o óbito do paciente.