No coração do Pantanal sul-mato-grossense, uma história de sobrevivência impressionante ganhou destaque após o peão Flávio Ricardo do Espírito Santo, de 28 anos, sobreviver a um ataque brutal de uma onça-pintada enquanto trabalhava em uma fazenda na região.(Veja o vídeo no final da reportagem)
O caso ocorreu no último sábado, dia 4 de outubro, na Fazenda Milagres, nome que diante da gravidade da situação, parece carregar um significado ainda mais forte.
O ataque mobilizou uma operação de resgate envolvendo o Corpo de Bombeiros e o Exército Brasileiro, que atuaram rapidamente para salvar a vida de Flávio, que chegou a perder muito sangue antes de receber atendimento médico adequado.
Flávio conversou com o repórter Paulo Cruz, do Auto News, diretamente da Santa Casa de Campo Grande, onde está internado e se recupera dos ferimentos. Em seu relato, ele não esconde a emoção e a fé: “Foi um milagre, foi Deus, tudo foi Deus, porque eu imaginei que eu não ia sair dessa”, disse, emocionado.
Flávio e seu companheiro faziam uma ronda rotineira a cavalo pela propriedade, na área pantaneira, quando se dividiram e o peão viu alguns urubus sobrevoando uma moita. A cena é comum para quem vive na região, já que aves de rapina indicam geralmente a presença de carniça, e pode se tratar de animais da própria fazenda, como cavalos ou vacas.
Ao se aproximar para verificar, Flávio foi surpreendido por uma onça-pintada, que o atacou sem aviso. O felino o puxou de cima do cavalo e o derrubou no chão. “Ela pulou na minha perna e me puxou de cima do cavalo. Quando me derrubou, só tive tempo de usar os braços para me proteger e chutei ela com a outra perna”, contou.
O ataque durou poucos segundos, mas o suficiente para causar sérios ferimentos. A onça só recuou quando o companheiro de Flávio gritou e os cães da fazenda começaram a latir, afastando o animal.
Mesmo gravemente ferido, Flávio teve que reagir rapidamente. Montou o cavalo do colega e cavalgou por mais de meia hora até a sede da fazenda, temendo que a onça pudesse voltar. “Cheguei meio zonzo, escurecendo a vista. Perdi muito sangue, mas consegui chegar em casa, graças a Deus.”
Na fazenda, foi socorrido pela esposa até a chegada dos bombeiros, que já estavam em uma base próxima, em Lourdes. Em seguida, um helicóptero do Exército realizou o resgate aéreo.
“Se fosse de caminhonete, seriam mais de 15 horas de viagem até Corumbá. Eu não teria aguentado”, comentou.
Durante a entrevista, o repórter mostrou inclusive parte de uma presa da onça que ficou cravada na perna do trabalhador rural, tamanha a força do ataque.
Uma vida dedicada ao Pantanal
Nascido e criado no Pantanal, Flávio conhece bem os riscos da lida com o gado em regiões de mata fechada. Está acostumado a ver pegadas de onça, mas nunca havia ficado frente a frente com uma.
“Só pensei em Deus na hora. Foi tudo muito rápido. Nunca tinha visto uma assim, só rastro, uma pegada, uma terra mexida. Mas dessa vez foi diferente. Foi a primeira vez e espero que a última. Foi Deus. Tudo foi Deus. Nascer de novo com vida é milagre mesmo.”