A antiga Colônia do Ariranha, localizada na zona rural de Alto Araguaia (MT). O local, que nas décadas de 1970 e 1980 foi um dos mais movimentados da região, hoje carrega marcas profundas do abandono. Entre casas destruídas pela ação do tempo e ruas tomadas pelo mato, restam apenas alguns moradores que resistem em meio às lembranças de um tempo de prosperidade.
Um deles é Edimilton Marques Pereira, de 71 anos, morador da Colônia há mais de quatro décadas. Em entrevista ao Portal, ele contou parte da história do povoado e descreveu as transformações que presenciou desde que chegou ao local, em 1984.
“Quando eu cheguei aqui, tinha até farmácia, veterinária, loja de roupa, de móveis, vários armazéns e botecos. Hoje só tem um armazém e quatro moradores aqui dentro”, relatou. Segundo ele, o povoado começou por volta de 1970 e chegou a reunir cerca de 70 famílias, com mais de 400 eleitores cadastrados na época. “Na primeira vez que vim aqui, tinha quase mil pessoas assistindo um comício do finado Pedro Lima. Era um movimento bonito, parecia que o lugar ia crescer muito”, lembra com nostalgia.
Hoje, o cenário é bem diferente. O que antes era uma vila cheia de vida agora se resume a ruínas: casas rachadas, escolas e igreja abandonadas, ruas silenciosas e construções tomadas pelo mato. O antigo posto de saúde e a escola municipal, que já teve até ginásio e chegou a oferecer aulas até a 6ª série, estão desativados. “A escola está caindo as telhas, caindo as ripas da cobertura”, lamenta seu Edimilton, que chegou a ser professor da unidade em 1990.
Igreja e Salão Paroquial
Mesmo diante das dificuldades, ele segue vivendo com a esposa no povoado, sustentando-se da aposentadoria e de uma pequena venda. “A gente vai ficando porque gosta daqui. Eu sou de Goiás, mas considero a Colônia do Ariranha a minha segunda pátria”, contou.
Para o morador, a falta de investimentos públicos foi o principal motivo do esvaziamento do local. “O que fez o povo ir embora foi a falta de energia, de estrada boa, e depois a chegada dos fazendeiros. Os pequenos foram vendendo e hoje é tudo fazenda. Não existe mais terrinha para comprar”, explica.
Ele também aponta a falta de gestão política e atenção das autoridades como fatores determinantes. “Aqui já teve médico e enfermeiro vindo uma vez por mês, mas agora nem isso. As crianças têm que estudar longe, a 30 ou 60 quilômetros daqui. Faltou interesse para manter a vila viva.”
Entre lembranças e saudade, o morador reforça o amor pela terra onde construiu sua vida. “Enquanto eu tiver as pernas para caminhar e os braços para trabalhar, quero estar por aqui, nem que seja só para passear.”
Hoje, a Colônia do Ariranha é o retrato de muitos povoados brasileiros esquecidos pelo tempo. Lugares que já foram cheios de histórias, famílias e esperanças, mas que agora sobrevivem apenas na memória dos que se recusam a deixar morrer o que um dia foi um lar.
Bar e Mercearia
Ponte de Concreto do Rio Ariranha















