Com a voz embargada e o coração apertado, a mãe de Tiago Andrade Rezende, de 18 anos, tenta encontrar forças para falar sobre o filho, uma das duas vítimas do afogamento que comoveu Paraíso das Águas. O jovem morreu ao lado do empresário Igor Pereira Rosa Paniago, de 32 anos, conhecido como Ferrinho, ao tentar salvar uma amiga que se afogava no Rio Sucuriú, na tarde de domingo (26).
“Parece que qualquer hora eu vou acordar e isso vai ser um sonho, um pesadelo”, desabafa a mãe, que mora em Chapadão do Sul e viajou para Paraíso assim que soube da tragédia.
Tiago havia se mudado há cerca de dois anos para o município, para ficar mais perto do pai e do irmão. “Ele morava comigo, mas resolveu vir pra cá trabalhar e ficar perto deles”, conta.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o grupo de amigos estava em uma embarcação e decidiu parar em um trecho do rio conhecido como prainha, entre o Rancho Tereré e a Ponte de Pedra. O tempo mudou de repente, o vento ficou forte e a correnteza aumentou. Uma das jovens começou a se afogar, e Tiago e Igor entraram na água para tentar salvá-la. Nenhum dos dois conseguiu voltar.
Os corpos foram encontrados no dia seguinte, um a cerca de dois quilômetros e o outro a aproximadamente quatro quilômetros do ponto onde desapareceram. “Ele não era acostumado a ir no rio, nem gostava muito de água”, contou a mãe. “Mas o Tiago era muito companheiro. Quando gostava de alguém, acompanhava. Era do tipo que não deixava ninguém sozinho, mesmo que isso custasse o sossego dele.”
Ela diz não conhecer a amiga que o filho tentou ajudar. “Ele nunca tinha falado dela pra mim, mas o Tiago era cheio de amizades. Às vezes dizia que não ia fazer alguma coisa, mas acabava fazendo. Era dele. Se via alguém precisando, estendia a mão.”
A mãe lembra também dos planos que o filho não poderá realizar. “Ele falava muito que queria ser peão de rodeio. Tinha um irmão de criação que o levava para treinar. Mesmo com medo da profissão, eu dava força para ele. Dizia: ‘Meu filho, se Deus quiser, você vai ser o que quiser ser.’”
Tiago tinha apenas 18 anos. Era um rapaz de fala mansa, cheio de sonhos e, como diz a mãe, “morreu do jeito que sempre foi: ajudando”.
“Ele era reservado, mas muito carinhoso. Quando eu ficava preocupada, ele dizia: ‘Mãe, relaxa, tá tranquilo’. Era assim, sempre tentando me acalmar. Era novinho, mas valente. Se precisasse defender alguém, ele defendia.”
Comoção e homenagens — A tragédia provocou comoção em Paraíso das Águas, onde os dois eram conhecidos e queridos. A Prefeitura Municipal decretou três dias de luto oficial e chamou Igor e Tiago de “filhos de Paraíso das Águas” em nota de pesar. “É com profundo pesar que expressamos nossa dor diante da perda de pessoas ainda tão jovens, cuja partida precoce e inesperada nos comove profundamente. Que Deus conforte e traga força às famílias e aos amigos desses jovens filhos de Paraíso das Águas”, diz o texto assinado pelo prefeito Ivan Xixi.
Igor era reconhecido na cidade pela atuação no setor de eventos e pelo envolvimento com o rodeio. A APPR (Associação dos Profissionais do Rodeio) publicou nota destacando o papel do empresário nos bastidores das competições. “Sua presença marcava o rodeio com alegria, dedicação e companheirismo — qualidades que deixarão saudades em todos nós.”
A Escola Kou Takahashi, onde a mãe de Igor é professora, também se manifestou. “Que o amor e o impacto que o Igor deixou no mundo sejam um conforto para todos os familiares. Ele será eternamente lembrado por sua bondade e dedicação.”
Apesar das tentativas, a reportagem do Campo Grande News não conseguiu contato com a mãe de Igor até a publicação desta matéria.
