Com quatro acidentes fatais e sete mortes registradas, 2025 já figura entre os anos mais letais da aviação em Mato Grosso do Sul na última década. Os dados são do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), que apura eventuais responsabilidades criminais, e do Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), responsável pela investigação técnica das ocorrências e registros desde 2015.
O primeiro acidente com vítima fatal ocorreu em janeiro, em Iguatemi, a cerca de 410 quilômetros de Campo Grande. O piloto agrícola Lucas Gomes Basílio Becker, de 35 anos, comandava uma aeronave Embraer 201A Ipanema, prefixo PT-UCW, no dia 30. Ele realizava o reconhecimento da área antes do carregamento com agrotóxicos para pulverização em uma fazenda.
Segundo a delegada e diretora do Dracco, Ana Cláudia Medina, os técnicos aguardavam o piloto em solo para abastecer o avião. “Ele estava reconhecendo a área, fez uma passagem baixa para verificar se não havia gado na pista e caiu na beira de uma estrada, a cerca de 200 metros da cabeceira, durante a manobra de pouso”, explicou à época.

Poucos meses depois, em 11 de março, a segunda tragédia aérea foi registrada no Estado. Paulo Roberto Crispim, de 40 anos, realizava a pulverização de agrotóxicos em uma fazenda de Nova Andradina, a cerca de 300 quilômetros da Capital, a bordo de uma aeronave Embraer 203 Ipanema.
Durante a aproximação para o pouso, o avião perdeu sustentação e caiu sobre uma plantação de cana-de-açúcar. A propriedade fica a 12 quilômetros da área urbana do município. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas não houve tempo para socorro, e o piloto morreu no local.

Após seis meses sem registros de acidentes fatais, em 16 de setembro, a aeronave Cessna 210 Silver Eagle, prefixo PS-FDW, que saiu de Araçatuba (SP) com destino a Figueirópolis do Oeste (MT), desapareceu do radar ao sobrevoar o Pantanal de Corumbá. O avião era conduzido pelo médico e produtor rural Ramiro Pereira de Matos, de 67 anos, que realizava o trajeto com frequência.
Durante o voo, Ramiro chegou a relatar a outro piloto que enfrentava condições meteorológicas adversas. Após horas de buscas, os destroços foram encontrados nas proximidades da Fazenda Piriri, no Pantanal.
No dia seguinte, a diretora do Dracco informou ao Campo Grande News que a prioridade inicial foi a retirada do corpo antes da análise completa da cena. A remoção foi feita até a sede da fazenda, de onde seguiu com apoio do GOA (Grupamento Operacional Aéreo) do Corpo de Bombeiros.
Poucos dias depois, em 23 de setembro, um acidente aéreo envolvendo um Cessna Aircraft 175 matou quatro pessoas após a queda da aeronave em uma fazenda de Aquidauana, a cerca de 140 quilômetros de Campo Grande. Conforme a delegada Ana Cláudia Medina, foi o acidente com o maior número de vítimas já atendido pela equipe especializada do Dracco em uma única ocorrência.

Entre os ocupantes estava o arquiteto chinês Kongjian Yu, referência mundial no urbanismo sustentável e criador do conceito de “cidades-esponja”, que defende a incorporação da água ao planejamento urbano por meio de áreas verdes capazes de absorver o excesso das chuvas.
Em 2013, o conceito foi adotado como política nacional da China para enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo o arquiteto, as cidades-esponja conseguem reduzir o calor urbano em até 5ºC, prevenir inundações e secas, purificar a água e revitalizar áreas rurais.
Kongjian estava no Pantanal para a produção de um documentário e para analisar o bioma como um sistema natural de absorção e filtragem da água, com o objetivo de demonstrar como as características da região podem servir de referência para projetos urbanos adaptados às mudanças climáticas.

Também estavam a bordo o cineasta brasileiro Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, autor do documentário Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia; o documentarista Rubens Crispim Jr., fundador da produtora Poseídos, com trabalhos exibidos no Discovery Channel, National Geographic, Arte 1, TV Globo e TV Cultura; além do piloto e proprietário da aeronave, Marcelo Pereira Barros, conhecido nas redes sociais como “Marcelo Pantaneiro”.
De acordo com a delegada responsável pela investigação, desde os primeiros levantamentos foram constatado que a aeronave operava fora do horário permitido. “No dia seguinte ao sinistro, a equipe refez o registro fotográfico das condições de iluminação no mesmo horário da tentativa de pouso. A aeronave não era homologada para operação visual noturna, e o piloto não possuía habilitação para voos noturnos”, explicou.
Testemunhas relataram que o piloto não conseguiu alinhar o avião na primeira tentativa de pouso e precisou arremeter. Na segunda tentativa, moradores não visualizaram a aeronave, mas perceberam fumaça à distância. Os destroços foram encontrados com todas as vítimas a bordo.

Na primeira semana de dezembro, equipes do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) se reuniram com o Dracco para a análise do motor e do conjunto de hélice, sendo descartada qualquer hipótese de pane mecânica. “Reafirmamos que a causa do acidente foi a violação do comandante”, afirmou Medina.
Até o fim deste ano, Mato Grosso do Sul registrou 235 ocorrências envolvendo aeronaves da aviação civil. Desse total, 115 foram incidentes, 75 acidentes e 41 incidentes graves, conforme dados do Sipaer. Ao todo, 19 dessas ocorrências foram fatais, incluindo as registradas ao longo de 2025…. veja mais em https://www.campograndenews.com.br/reportagens-especiais/com-4-acidentes-e-7-mortes-2025-e-um-dos-anos-mais-letais-da-aviacao-em-ms










