Uma nova legislação ambiental, com previsão de aplicação a partir de 2026, tem gerado preocupação entre produtores rurais ao prever o uso intensivo de monitoramento por satélite para identificação de infrações. Segundo especialistas e produtores, práticas rotineiras do dia a dia das fazendas, tradicionalmente associadas ao manejo e à manutenção das propriedades, podem passar a ser enquadradas como irregularidades ambientais a partir da interpretação automática de imagens e dados geoespaciais.
Entre as situações citadas estão ações como a limpeza de carreadores para prevenção de incêndios e animais peçonhentos, a manutenção de estradas internas após chuvas, a correção do solo com calcário em áreas próximas a baixadões, a retirada de árvores mortas derrubadas pelo vento e a reconstrução de terraços danificados por enxurradas. Atividades como a queima de lixo rural, frequentemente realizada em locais sem coleta adequada, e o acesso do gado a cursos d’água usados historicamente para dessedentação também podem ser identificadas pelos sistemas de monitoramento como intervenções irregulares em áreas ambientalmente protegidas.
Produtores alertam que, na prática, o cruzamento entre imagens de satélite, algoritmos e a nova legislação pode transformar rotinas consolidadas do campo em autuações ambientais, mesmo sem a constatação direta de dano ao meio ambiente. A preocupação central não está no valor das multas, mas no risco de criminalização automática do trabalho rural, baseada exclusivamente na leitura remota dos sistemas de fiscalização.
Especialistas em geotecnologia defendem que o setor produtivo busque se antecipar às mudanças, adequando registros, licenças e práticas às novas exigências legais, enquanto entidades do agro cobram maior diálogo entre o poder público e os produtores para evitar insegurança jurídica e penalizações indevidas.
RioverdeGoias
