O município de Chapadão do Sul perdeu, nesta semana, um de seus grandes pioneiros e guardiões da memória regional. Faleceu aos 91 anos, Anísio Mariano da Silva, morador do Assentamento Aroeira e reconhecido como o maior contador de histórias ainda vivo da cidade. O comunicado do falecimento foi feito por seu neto, Flávio Mattos.
Descendente de uma tradicional família com quase 200 anos de história na região, Anísio era uma verdadeira enciclopédia viva. Nascido em 24 de agosto de 1934, na Fazenda Três Marias, entre Inocência e Paranaíba, cresceu em uma área que, segundo relatos históricos, chegou a ser usada como corredor de passagem da Coluna Prestes, movimento liderado pelo “Cavaleiro Solitário” Luís Carlos Prestes, durante o governo de Getúlio Vargas.
Filho caçula de Joaquim Mariano da Silva e Vicência Maria Teodoro, Anísio assumiu o comando da fazenda ainda jovem, quando os pais já não conseguiam mais realizar as tarefas diárias. A propriedade era o centro da vida comunitária: acolhia viajantes e vizinhos, mantendo viva uma tradição de hospitalidade que marcaria toda a trajetória de Seu Anísio.
Em 1957, casou-se com Laudemira Ferreira da Silva, com quem teve cinco filhos — Gabriel, Floripe, Francisco, Nelson e Célia —, além de seis netos e oito bisnetos. Juntos, construíram uma pequena escola coberta de capim, anexa à residência, onde as crianças da região aprendiam as primeiras letras. Os alunos vinham a cavalo e, muitas vezes, o próprio Seu Anísio oferecia comida e abrigo durante o período letivo.
De espírito comunitário e solidário, fazia longas viagens a Três Lagoas, a cavalo ou de carro de boi, para buscar mantimentos, enquanto os demais produtos eram cultivados na própria fazenda. A fé também sempre esteve presente em sua história: seu pai foi um dos articuladores da vinda do padre Emogenês, de Costa Rica, que visitava a região anualmente para celebrar missas e batizados — um marco para a formação religiosa local.
Com o passar dos anos e a emancipação de Chapadão do Sul, Anísio continuou atuando em prol do desenvolvimento da comunidade. No Assentamento Aroeira, tornou-se referência de solidariedade e trabalho coletivo. Era comum vê-lo puxando água com trator e carreta para atender vizinhos, sem jamais cobrar por isso.
Homem simples, sábio e generoso, Seu Anísio Mariano da Silva deixa um legado de valores, união e amor pela terra. Sua vida se confunde com a própria história da formação social e humana de Chapadão do Sul.
Os atos fúnebres serão informados pela família em breve.
“Foi um grande homem, à frente de seu tempo e protagonista da história”, resumem familiares e amigos, em tom de gratidão e saudade.
Fonte: Chapadense News










