spot_img
InícioInternacionalMistério e angústia: ex-professor de Camapuã desaparece há 4...

Mistério e angústia: ex-professor de Camapuã desaparece há 4 meses após entrar para as forças russas

O caso de Fábio Santos, de 44 anos, que morou por muitos anos em Camapuã e ficou conhecido na cidade por ter atuado como professor de História e teologia, se tornou motivo de grande apreensão. Ele está desaparecido há quatro meses, desde 11 de julho, quando manteve seu último contato com a família. Na última terça-feira, 11 de novembro, a ausência completou oficialmente quatro meses, gerando preocupação entre parentes, amigos e pessoas da comunidade que acompanharam sua trajetória antes de ele partir rumo à Rússia para atuar como enfermeiro combatente no Exército russo, em meio ao conflito contra a Ucrânia.

A última localização enviada por Fábio o situava nas proximidades da margem do rio Karpovka, em São Petersburgo — uma área distante da linha de frente, mas usada como rota de passagem para estrangeiros que chegam ao país para processos de documentação, triagem e exames médicos ligados ao alistamento militar. O ponto reforça que Fábio ainda poderia estar em fase inicial de procedimentos administrativos, e não atuando diretamente em zonas de conflito.

Última localização enviada por Fábio, no dia 11 de julho.

A guerra entre Rússia e Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, quando tropas russas invadiram o território ucraniano após meses de tensões militares e políticas. A Rússia afirma agir para defender regiões separatistas pró-Moscou, enquanto a Ucrânia e a maior parte da comunidade internacional classificam a ofensiva como uma invasão ilegal. O conflito ultrapassa três anos e meio, causando milhares de mortes e um dos maiores deslocamentos populacionais da Europa nas últimas décadas.

Grande parte da família de Fábio reside em Campo Grande e relata crescente angústia com a falta de notícias. A irmã dele, Terezinha Sedei, contou à equipe do NavegaMS que o telefone do morador de Camapuã já está com outra pessoa, e que nenhuma tentativa de retomar o contato teve sucesso. Segundo ela, a Cruz Vermelha orientou que a família registrasse boletim de ocorrência e realizasse um exame de DNA, que deve ser feito por um dos irmãos. Sua filha, Jennifer, já iniciou os trâmites com a embaixada, com a Cruz Vermelha e outros órgãos consulares.

Terezinha relatou também que Fábio tinha plena consciência dos riscos envolvidos, já que sempre teve grande interesse por assuntos ligados a guerras e geopolítica — algo que já fazia parte da sua vida desde o período em que lecionava História em Camapuã. Movido por essa paixão, ele decidiu aceitar o desafio de se alistar como estrangeiro no Exército russo, após ter contato com conteúdos nas redes sociais sobre o processo de alistamento.

No entanto, a família destaca outro ponto que acende o alerta: Fábio teria viajado após contato com Arthur Michel e Antônio Neto, dupla de brasileiros mencionada em reportagens nacionais por suspeita de aplicar golpes financeiros em soldados estrangeiros. Fábio citou também o nome de Michel e disse à família que havia a promessa de que, caso algo acontecesse com ele, seus familiares receberiam um valor não especificado. A própria família  confirmou ao site Navega MS que Fábio interagia nas redes sociais com Arthur e Antônio, reforçando a ligação entre eles.

Fábio vestido com a farda russa. Foto/Arquivo pessoal

A suspeita ganhou força após uma reportagem da CNN Brasil, publicada em 15 de agosto, que detalha acusações de soldados sul-americanos contra a dupla. Segundo a matéria, Arthur Michel e Antônio Neto administravam canais ensinando estrangeiros a ingressar no Exército russo. Ao chegarem ao país, os recrutas eram auxiliados por eles na documentação — incluindo a assinatura de supostos formulários que, na verdade, seriam procurações que davam acesso às contas bancárias dos soldados. Diversos militares relataram saques irregulares, ameaças e até confinamento.

De acordo com os relatos coletados pela CNN, alguns soldados tiveram prejuízos superiores a R$ 60 mil, e outros enfrentaram dificuldades para voltar ao Brasil, sendo ameaçados de acusação de deserção. Um deles relatou que precisou quebrar a janela de um hotel para fugir, após ser impedido de encerrar o contrato e retornar ao país.

Entre os amigos que acompanham o desaparecimento com sofrimento está Noeliane Pereira de Souza, ex-aluna e grande amiga de Fábio. Ela contou ao NavegaMS que os dois desenvolveram uma amizade profunda ao longo dos anos, marcada pela confiança e pela preocupação mútua:

“Ele era determinado, às vezes difícil de entender, mas eu ajudava ele em tudo. Conversávamos todos os dias. A última vez que falei com ele foi em 9 de junho — depois disso, nunca mais consegui qualquer sinal”, relatou, emocionada.

A família de Fábio também entrou em contato com parentes de outro brasileiro desaparecido na Rússia, supostamente vítima da mesma dupla. Eles afirmam que, apesar de Fábio ter viajado por vontade própria e movido pela paixão pelo tema, existe a possibilidade de que ele tenha sido alvo dos mesmos golpes descritos pelos demais soldados.

Segundo Terezinha, a família vive dias de angústia e incerteza, aguardando qualquer informação oficial sobre o paradeiro de Fábio:

“Ele sabia o que estava fazendo, mas não imaginava que seria enganado. A gente está desesperado”, disse à equipe  do Navega MS.

Na época, o Itamaraty, em nota, afirmou que presta assistência consular a brasileiros envolvidos em conflitos no exterior, desde que a família ou o próprio cidadão entre em contato. O governo reforçou ainda que publicou um alerta para brasileiros que pretendem atuar em zonas de guerra, orientando sobre riscos e procedimentos.

Enquanto isso, cresce a preocupação entre pessoas que conviveram com Fábio durante seus muitos anos morando em Camapuã, onde deixou amigos, alunos e uma forte ligação com a comunidade. Todos esperam que novas informações possam trazer alívio à família, que não tem notícias desde julho.

Fonte: Navega MS

spot_img
spot_img
spot_img
spot_img
spot_img
spot_img
spot_img
spot_img
spot_img