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Secretária Estadual de Saúde de MS faz alerta após avanço descontrolado de canetas emagrecedoras clandestinas

A popularização das canetas emagrecedoras, usadas para perda de peso e controle de doenças metabólicas, criou um mercado que atravessa consultórios, redes sociais, fronteiras e estradas no Brasil. O uso sem prescrição, as compras no Paraguai e o contrabando pelas rodovias de Mato Grosso do Sul formam atualmente um cenário de risco que preocupa médicos, autoridades sanitárias e também a SES (Secretaria Estadual de Saúde).

Como a proximidade com a fronteira aumenta a exposição da população a esses produtos, a SES divulgou nesta terça-feira uma nova recomendação reforçando que versões manipuladas, importadas sem receita ou vendidas em redes sociais não passam por qualquer controle de qualidade e podem conter impurezas, toxinas e até bactérias. A Cvisa (Coordenação de Vigilância Sanitária Estadual) acrescenta que o uso representa risco grave à saúde, com possibilidade de reações adversas, intoxicações e até morte.

O farmacêutico Alexandre Tutes, da vigilância estadual, explica que canetas importadas sem registro não têm garantia de eficácia e segurança e destaca a importância de orientação médica.

A SES afirma também que a prevenção da obesidade deve se basear em informação, acompanhamento e hábitos de vida saudáveis. O alerta foi vinculado ao aumento contínuo de casos no Estado. Em 2024, entre 432.773 pessoas avaliadas, 32,76% apresentaram sobrepeso e mais de 39% estavam em algum grau de obesidade. Para a secretaria, esse cenário estimula a demanda por soluções rápidas e favorece o consumo de produtos clandestinos.

SES faz alerta após avanço descontrolado de canetas emagrecedoras clandestinas
Médica brasileira Krislere Gomes da Silva atua no ramo da beleza no Paraguai (Foto: Arquivo Pessoal)

A médica brasileira Krislere Gomes da Silva, que atua no Paraguai no ramo da beleza, é uma das profissionais que já vinham chamando atenção para o avanço da automedicação e dos efeitos adversos. No país vizinho, onde medicamentos como Lipoless são autorizados, ela relata aumento de casos de uso sem prescrição.

Segundo Krislere, pacientes fracionam doses, utilizam miligramagens erradas e chegam ao hospital com mal-estar que dura dias. Ela afirma que o problema não está nos laboratórios, mas na ausência de acompanhamento médico. Em suas palavras, há pessoas aplicando doses semanais sem qualquer exame ou orientação profissional.

Os remédios exigem receita de controle especial no Brasil e costumam ter preço elevado, o que impulsiona viagens ao Paraguai. No exterior, laboratórios tradicionais como Indufar, Lili e Quimfa são fiscalizados pela Dinavisa (Direção Nacional de Vigilância Sanitária), equivalente paraguaio da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Mesmo assim, para a médica, o uso sem orientação médica cria riscos significativos.

SES faz alerta após avanço descontrolado de canetas emagrecedoras clandestinas
Versão de tirzepatida sem regulamentação entre itens apreendidos pela Polícia Federal (Foto: Divulgação)

A Anvisa reforçou na semana passada a proibição de importação, venda, propaganda e uso de várias canetas emagrecedoras sem registro sanitário no país. Entre os produtos proibidos estão T.G. 5, Lipoless, Lipoless Éticos, Tirzazep Royal Pharmaceuticals e T.G. da Indufar. Segundo a agência, nenhum deles passou por avaliação de qualidade, eficácia e segurança. A legislação permite apenas importações excepcionais, para uso pessoal, mediante prescrição médica.

Para Krislere, o avanço desse mercado alimenta outro problema: o uso descontrolado. Ela relata que há pessoas que compram canetas no contrabando e aplicam em casa sem saber a dose correta, gerando casos que vão de simples desidratação a pancreatite aguda, situação que, segundo a médica, se tornou rotina em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e hospitais. Krislere destaca que essas canetas foram criadas para usos específicos, como resistência insulínica e obesidade com indicação clínica, sempre com acompanhamento semanal.

Ela afirma que esses medicamentos não são fórmulas rápidas e exigem exames e individualização.

A médica também critica profissionais que priorizam ganhos financeiros e lembra que a estética, quando tratada sem consciência, resulta em prejuízos à saúde. Para ela, o correto seria que os usuários buscassem equipes multidisciplinares e médicos capacitados tanto no Brasil como no Paraguai. Em suas palavras, o uso correto gera benefícios e o uso irregular gera internação.

Nas rodovias de Mato Grosso do Sul, o alerta sanitário já encontra reflexo. Em 2025, o contrabando de canetas emagrecedoras superou inclusive as apreensões de drogas nas estradas estaduais, segundo o Batalhão de Polícia Militar Rodoviária. O Estado funciona como corredor para a entrada irregular desses produtos. Depois do boom de narguilés e vaporizadores, os emagrecedores passaram a dominar as cargas ilegais.

SES faz alerta após avanço descontrolado de canetas emagrecedoras clandestinas
Carregamento com 400 canetas emagrecedoras contrabandeadas apreendidas pela Receita Federal na fronteira do Brasil com o Paraguai (Foto: Divulgação)

A diferença entre contrabando e descaminho ajuda a entender o avanço desse mercado. Contrabando envolve produtos proibidos. Descaminho é a entrada legal de mercadorias, mas sem o pagamento de impostos.

Ambos são contravenções penais e raramente resultam em prisão. Uma das apreensões mais recentes ocorreu em Ponta Porã, quando a Polícia Militar encontrou 256 caixas de tirzepatida, 133 de Lipoless, 103 caixas de TG e outras substâncias estéticas, além de celulares e anabolizantes. A carga estava avaliada em 149 mil reais e era transportada em um Prisma.

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