Mato Grosso do Sul enfrenta um déficit estrutural de 11,1 milhões de toneladas na capacidade de armazenagem de grãos, segundo o estudo técnico “Capacidade de Armazenamento de Grãos de Soja e Milho do Mato Grosso do Sul – 2025”, elaborado pela Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul). O levantamento pretende orientar investimentos públicos e privados para reduzir o gargalo logístico.
A Aprosoja/MS revelou um déficit de 11,1 milhões de toneladas na capacidade de armazenagem de grãos em Mato Grosso do Sul, conforme estudo técnico. O Estado produz, em média, 22,9 milhões de toneladas de soja e milho, mas possui estrutura para armazenar apenas 16,4 milhões. A concentração de silos em poucos municípios agrava a situação, afetando a competitividade do agronegócio. O presidente da Aprosoja/MS, Jorge Michelc, destaca que a falta de silos prejudica a negociação de preços pelos produtores, forçando vendas em condições desfavoráveis. Apesar do aumento de 82% na capacidade de armazenamento na última década, o crescimento da produção foi ainda maior, resultando em um déficit recorde em 2023. A entidade defende investimentos em infraestrutura para melhorar a logística e a competitividade do setor.
Com base em dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e do SIGA/MS (Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio), o estudo mostra que o Estado produz, em média, 22,9 milhões de toneladas de soja e milho por safra, mas possui estrutura para armazenar apenas 16,4 milhões de toneladas. Como o estudo foi feito com estimativas, o impacto pode ser ainda maior, já que o IBGE apontou que as safras deste ano podem somar 25,45 milhões de toneladas.
A concentração também é um problema: os cinco maiores municípios detêm 49% da capacidade total de depósito, mas respondem por apenas 38% da produção estadual. Essa desigualdade deixa municípios médios e pequenos — justamente os mais produtivos — em situação de vulnerabilidade. Dos 78 municípios analisados, 73 apresentam déficit de armazenagem. O problema é mais crítico em Maracaju, Ponta Porã, Rio Brilhante, Aral Moreira e São Gabriel do Oeste.
O presidente da Aprosoja/MS, Jorge Michelc, alerta que a falta de silos reduz a margem de lucro do produtor, porque ele fica impossibilitado de negociar preços ou esperar melhor momento para vender a produção. “Sem espaço suficiente para estocar, ele é obrigado a vender logo após a colheita, muitas vezes em condições desfavoráveis de mercado”, explica.
A defasagem é de 67,8% em relação à capacidade ideal recomendada pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que orienta uma estrutura 20% superior ao volume total produzido.
O assessor técnico da entidade e responsável pelo estudo, Flavio Faedo Aguena, reforça que o problema afeta o desempenho do setor, mesmo apostando em aumento da produtividade. “A competitividade do agronegócio não depende só do que acontece dentro da fazenda. Sem silos suficientes, todo o esforço e tecnologia aplicados no campo podem ser perdidos, onerando o produtor e reduzindo nossa competitividade”, afirma.
Embora a capacidade de armazenamento tenha crescido 82% em uma década — de 9,01 milhões de toneladas em 2014 para 16,39 milhões em 2025 —, o avanço foi insuficiente diante da expansão da produção, que subiu 69%, de 17,23 milhões para 29,11 milhões de toneladas no mesmo período. O déficit absoluto passou de 8,25 milhões de toneladas em 2014 para 12,72 milhões em 2025, um aumento de 54%.
O pior cenário foi registrado em 2023, quando uma supersafra gerou déficit recorde de 21,23 milhões de toneladas.
A cidade de Maracaju lidera o ranking de produção nas últimas cinco safras, com 2,6 milhões de toneladas de soja e milho, mas possui capacidade de estocar apenas 1,8 milhão. A Aprosoja/MS defende que o diagnóstico sirva como base para políticas públicas e investimentos privados. Para a entidade, o desafio é urgente e estratégico. “O futuro do Estado depende de uma rede de armazenagem moderna e estrategicamente distribuída. Essa infraestrutura permitirá que o produtor tenha mais poder de decisão na comercialização, diminuindo custos e a dependência do transporte rodoviário”, conclui Jorge.
O estudo sobre o armazenamento sugere que a implantação da Rota Bioceânica e uma tão esperada retomada do transporte ferroviário e a implantação da Hidrovia Paraguai Paraná podem consolidar Mato Grosso do Sul como um dos polos logísticos mais eficientes do país, caso invista, agora, na capacidade de guardar o que produz
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