Ambos os suspeitos envolvidos em um golpe milionário contra a gigante do agronegócio Bom Futuro, autuados em flagrante na última quinta-feira (13), foram encaminhados para audiência de custódia. A informação foi confirmada pela Polícia Civil. Um dos envolvidos, dono de uma empresa de transportes beneficiada na ação criminosa, teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.
O esquema era operacionalizado por Welliton Dantas, 28, funcionário do grupo empresarial há mais de dez anos, e Vinicius de Moraes Sousa, 29, proprietário da empresa de transportes que recebia os pagamentos indevidos. O prejuízo estimado é de cerca de R$ 10 milhões.
Welliton foi preso na sede da Bom Futuro, no bairro Ribeirão do Lipa, em Cuiabá, enquanto Vinicius foi localizado em sua residência em Barra do Garças. A decisão pela prisão preventiva do empresário foi assinada na ultima sexta-feira (14) pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Barra do Garças, Marcelo Sousa Melo Bento de Resende. Welliton ainda aguarda audiência de custódia.
Como funcionava o esquema milionário que deu golpe na Bom Futuro
As investigações apontam que o golpe ocorria por meio da simulação de fretes e serviços de transporte de gado que jamais foram realizados. Para isso, Vinícius, dono de uma transportadora, emitia CT-es (Conhecimento de Transporte Eletrônico) fraudulentos, que eram aprovados internamente por Welliton, responsável pela liberação de pagamentos no setor de transportes da Bom Futuro. Os documentos indicavam supostas viagens feitas por caminhões da transportadora. Na prática, o serviço havia sido executado por veículos próprios do grupo — ou sequer chegou a existir. No caso dos transportes internos dentro do estado, nem mesmo havia exigência do CT-e, o que, segundo o depoimento, abriu brechas para que o golpe começasse. A fraude teria se estendido por cerca de dois anos, período no qual os pagamentos liberados somam milhões em prejuízos ao grupo.
Investimentos com dinheiro do golpe
Durante o depoimento, Welliton confessou ter utilizado os valores desviados para comprar um apartamento na planta, um terreno em condomínio, dois carros de luxo — um Creta e um Volvo —, além de aplicar mais de R$ 500 mil em ações. As compras chamaram atenção devido ao descompasso com sua renda mensal, estimada em cerca de R$ 7 mil.
A Polícia Civil apreendeu veículos, documentos e equipamentos eletrônicos usados na operação do esquema.
Arrependimento e desabafo: “Meu erro não é perdoável” Em depoimento, Welliton demonstrou arrependimento e fez declarações emocionadas sobre sua trajetória na empresa — o primeiro emprego registrado de sua vida. Ele afirmou saber da gravidade do que cometeu e disse que deve “cumprir sua sentença”, destacando a mágoa que pode ter deixado em seus gestores, por quem afirmou ter respeito e gratidão.
“Imagino que o meu erro não é perdoável”, declarou e, ainda, acrescentou: “Agradeço pela oportunidade que nunca mais terei”.
A descoberta do rombo do golpe na Bom Futuro O esquema veio à tona após uma auditoria interna identificar inconsistências em notas e pagamentos. O caso ganhou contornos mais graves quando Welliton foi surpreendido tentando emitir uma nova nota de R$ 200 mil, que também seria parcialmente desviada. A partir disso, a empresa acionou a Delegacia Especializada de Estelionato, que iniciou a investigação e realizou as prisões.
A própria Bom Futuro comunicou as irregularidades às autoridades e tem colaborado integralmente com a investigação.
Justiça mantém prisões preventivas
Após audiências de custódia, a Justiça converteu o flagrante em prisão preventiva tanto para o funcionário quanto para o empresário. Os magistrados consideraram a necessidade de garantir a continuidade das investigações, preservar documentos e evitar interferências no processo.
Os dois seguem presos enquanto a Polícia Civil aprofunda a apuração para determinar se há outras pessoas envolvidas e para calcular com precisão o tamanho do rombo, já que as apurações apontam para desvios entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões.
Um alerta para o agro
O caso do golpe na Bom Futuro expõe como fraudes internas podem ocorrer mesmo em empresas altamente estruturadas, reforçando a importância de auditorias frequentes, sistemas de rastreabilidade, checagens de pagamento e políticas rígidas de compliance. Para um setor que movimenta bilhões e depende de logística eficiente, o episódio serve como alerta e aprendizado para todo o agronegócio.
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